Lesnar não resistiu aos potentes golpes do holandês.

Ser lutador do UFC certamente traz uma série de benefícios. Fama, dinheiro, enfrentar os melhores, respaldo e mais uma série de fatores. Mas por incrível que pareça, também tem o lado ‘penoso’ do negócio. Para encarar os melhores, é necessário ser um dos melhores, manter o alto nível e tudo mais, o que envolve um treinamento pesado, ininterrupto, incansável. É preciso tomar cuidado com o corpo, com alimentação, ter disciplina extrema e coisas do tipo. Como a maioria dos empregos assalariados, com funcionários sob contrato, é obrigatório fazer as vontades do patrão. E uma dessas vontades, vez ou outra, pode envolver trabalhar tarde da noite no último, penúltimo ou primeiro dia do ano. Já há alguns anos o UFC realiza eventos em um desses dias, e neste ano foi assim com o Ultimate de número 141, dia 30 de dezembro em Las Vegas. E não devemos nos enganar pela data. Foi mais um excelente evento, mantendo o padrão da organização. O main event desta edição foi o duelo entre os gigantes Alistair Overeem, vindo do Strikeforce, em sua primeira luta no octógono mais famoso do mundo, contra Brock Lesnar, que buscava sua recuperação após perder o cinturão de forma devastadora para Cain Velasquez. Algumas surpresas, ótimos combates. Para o Brasil, saldo de uma vitória e uma derrota. Diego Nunes abriu a noite vencendo com muita superioridade Manvel Gamburyan por pontos. E Júmior Assunção foi derrotado, também por pontos, por Ross Pearson, em luta dura e equilibrada.

No card principal, o jovem Jimy Hettes deu uma verdadeira aula para Nan Phan. Venceu por pontos, mas aplicou um largo domínio em todos os aspectos. Hettes, de apenas 24 anos, é da categoria dos penas, a mesma do nosso campeão José Aldo, que defende seu cinturão contra Chad Mendes no próximo UFC, a ser realizado no Rio de Janeiro. Claro que Hettes, teoricamente, ainda não seria um adversário páreo para Aldo. Mas o americano fez apenas sua segunda luta no UFC, soma 10 vitórias sem nenhuma derrota em seu cartel, e deve-se ficar de olho na evolução deste atleta. Seu jogo de chão é muito bom, se posiciona e se movimenta bem, e isso só com a faixa roxa. Portanto deve evoluir em suas próximas apresentações. O sueco Alexander Gustafsson adentrou o octógono para enfrentar Vladimir Matyushenko, e só comprovou sua qualidade. Com mão precisa, atingiu facilmente Matyushenko e nocauteou ainda no primeiro round. Apesar dos belos nocautes na carreira e da fama de mão pesada, Matyushenko a meu ver era o adversário errado para Gustafsson nesse momento. Com 40 anos, já é um veterano e caminha para encerrar a carreira, enquanto Gustafsson vem em franca acensão. Com esta, emenda uma sequência de 4 vitórias, sendo que a anterior fora contra o duro Matt Hamill. Inclusive sua única derrota no UFC foi contra Phil Davis, um lutador que se não for top, está na borda. Gustafsson deve agora subir um degrau e enfrentar algum top, desta que é a categoria mais charmosa e disputada do UFC. Um combate contra Maurício Shogun, por exemplo, não seria nada mal.

Diaz e Cerrone travaram a melhor luta da noite.

A maior surpresa da noite sem dúvida ficou por conta de Johny Hendricks. Com poucos segundos de luta nocauteou nada menos que John Fitch, que muitos gostam de classificar como o lutador mais ‘amarrão’ e autor de lutas ‘feias’ na organização. Entretanto sua qualidade é inquestionável. Sem dúvida é um lutador muito difícil de ser batido e que nunca havia perdido desta maneira. Hendricks vibrou como nunca, com razão, claro. Desponta como agradável surpresa e se posiciona muito bem na categoria dos meio-médios. O show da noite ficou por conta da luta entre Nate Diaz e Donald Cerrone. Diaz, irmão mais novo de Nick Diaz, tem o mesmo estilo do irmão: um boxe volumoso, que caminha para frente, que desfere e atinge o adversário constantemente, magoando e impedindo-o de se organizar para reagir. E assim fez com Cerrone, que vale dizer, é um excelente lutador. Vindo do WEC, com certeza é uma das maiores promessas da categoria dos leves, e cedo ou tarde deve ter o seu title shot. Desde que chegou ao UFC estava invicto, com vitórias sobre os brasileiros Vagner Rocha e Charles ‘do Bronx’ Oliveira. Mas sua acensão para, por hora, com a derrota para Diaz. Este, deixou Cerrone perdido desde o primeiro instante de luta, marcou bem os golpes, encontrou a cabeça do oponente com facilidade, no cinch ’toureava’ e tirava a base de Cerrone, e teve fôlego para os três rounds com a mesma intensidade. Seria interessante ver este boxe contra o do campeão Frankie Edgar, que defende seu conturão no Japão, contra Ben Henderson.

 

E no main event Overeem não tomou conhecimento da fama e tamanho de Lesnar, mesmo porque não é exagero classificar Overeem também como um gigante. Sem dúvida os dois lutadores maiores, em tamanho, de MMA da atualidade. Campeão dos pesados do Strikeforce, Overeem não encontrou dificuldades, e com poucos golpes, certeiros e extremamente potentes, fez Lesnar dobrar-se e obrigou Mário Yamazaki a encerrar o combate. Foram 3 ou 4 joelhadas e um chute, todos na região do abdomem. Lesnar, após a derrota, declarou que sua breve carreira no MMA está encerrada. Overeem segue lutando e tem como próximo desafio Júnior ‘Cigano’ dos Santos, pelo cinturão dos pesados. Com origem no K1, maior competição de luta em pé do mundo, Overeem é essencialmente um Kickboxer, e mesmo sabendo bem de jiu jitsu e com algumas belas finalizações na carreira, a luta de chão não deve ser uma opção nem para Cigano e nem para Overeem no combate futuro. Talvez Cigano seja o favorito, simplesmente por ser o campeão. Seu boxe é mais poderoso, mas Overeem tem um arsenal de trocação mais vasto. Mas para quem tem o cinturão, a vida no UFC é assim, só enfrentando os melhores em seu melhor momento.

Chute derradeiro desferido por Overeem, que acabou não só com o combate, mas com a carreira de Lesnar no MMA.

Infelizmente não foi possível fazer o tradicional texto ‘luta a luta’ e nem o ‘resultados’ para este evento. Uma viagem para uma região desprovida de internet e uma equipe de um homem foram os principais motivos. Me desculpo e agradeço aos fieis leitores que buscaram informações nestas páginas, e informo que as atividades normais já estão retomadas. Um feliz ano de 2012 a todos.

Comentários
  1. Luiz Sanson diz:

    Ótimo texto novamente, Fernando. Espero tuas considerações pro UFC 142, no RJ!

  2. Muito Obrigado, Luiz. Sem dúvida um dos leitores mais assíduos daqui. Talvez o mais. Para o 142 a idéia é preparar uma carga especial de informações, sobre todas as lutas e lutadores, um pouco mais detalhada que o normal. Estarei lá e pretendo colher algumas fotos e notícias quentes também. Abraço!

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